segunda-feira, 11 de maio de 2015

Um perfil público (blognovela)

Uma simples pesquisa no Google revelava toda uma identidade da nossa Madalena. Editora de moda de uma revista de sucesso. Autora de inúmeros artigos sobre estilistas, modelos, tendências. Presença obrigatória e aguardada em todos os grandes acontecimentos da área pelo mundo fora. Comentadora num programa de televisão. A cara portuguesa além fronteiras de quem mais sabia sobre o assunto em Portugal. Nova. Com 33 anos de idade. Bonita. Bom... vistosa será o termo mais certo! Mas muito, muito invejada por inúmeras mulheres. Talvez por todas as que a conheciam.

Mas como em todas as histórias de princesas, há uma realidade desconhecida para aqueles que querem viver a vida dos outros. Madalena sentia isso agora na pele. O sucesso profissional tinha-lhe toldado as prioridades. Para ela tudo era dado como certo. Pois era assim o meio em que vivia. Bastava abrir a boca com qualquer sugestão que logo alguém se encarregava de torná-la numa realidade. E esse era um poder que tinha e que muito lhe agradava.

Sabia que na revista todos contavam consigo. Sabia mesmo que a revista dependia de si. Não tinha um minuto de descanso. Muito trabalho. Muitas reuniões. Muitas festas. Muitos eventos importantíssimos a que nunca, mas nunca podia faltar. Vingar nesta área, tão cedo, era raro. E Madalena sabia-o. Sabia-o muito bem. E à medida que o seu sucesso foi sendo uma realidade, à medida que consolidava a sua imagem, através do seu trabalho, crescia também a sua ambição. Cada vez mais.

Era o centro das atenções. Em todas as ocasiões. Pela roupa que vestia, pelos sapatos que calçava, pelos acessórios que usava. Pelo longo e brilhante cabelo castanho que tinha sempre impecavelmente bem penteado. Pela maquilhagem sempre no ponto. E pelo sorriso que exibia que levava todos a acreditarem no que viam: uma mulher feliz.

Mesmo quando foi abandonada pelo futuro ex-marido e esteve duas semanas sem pôr os pés na revista, não deixou de receber telefonemas, responder a e-mail's, validar propostas, reler artigos, escolher imagens, validar títulos, falar com patrocinadores, reunir por telefone (em alta voz). Chorava, logo de seguida, mas nunca ninguém desconfiou, sequer, sobre o verdadeiro motivo da sua ausência.

Teve o casamento de sonho de qualquer mulher. E até isso estava no Google, nas imagens do Google. Um vestido desenhado exclusivamente para si, com tecidos importados, especialmente para si. Num cenário idílico. Sem qualquer constrangimento. Um casamento tal e qual como qualquer mulher com vontade de casar desejava: à medida dos seus sonhos.

Viajou com o marido em lua de mel durante um mês. E não deixou os seus seguidores no instagram sem resposta. Todos os dias partilhava o que fazia, onde estava, o outfit do dia, as compras que fazia, a felicidade que vivia. E até o número de seguidores nesse mês aumentou significativamente. Aumentando, também, o seu valor, a sua imagem. Ela sabia-o. E de tão consciente que estava sobre isso não era por acaso que agia assim. Não dava ponto sem nó. Calculava sempre o impacto das suas acções públicas. Através dos seus perfis públicos. E foi mais o tempo que passou de volta deles do que, verdadeiramente, a viver a sua lua de mel.

Foi esse o primeiro sinal daquilo que mais tarde despoletou a saída de Duarte. Não que ele não soubesse com quem estava a casar. Mas os homens são como as mulheres. Quando amam. Também têm esperança que, com eles, as coisas sejam diferentes. Mesmo que alguém os tenha avisado atempadamente.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comente! Prometo responder!