sexta-feira, 8 de maio de 2015

Um fim de semana imprevisível (blognovela)

Depois do telefonema do seu futuro ex-marido, Madalena ficou tão irritada que decidiu sair de Lisboa por uns dias. Aproximava-se um fim-de-semana longo, fruto de um calendário rico em feriados, por isso não hesitou. Ligou à amiga que queria dar uma voltinha no BM do Jorge, combinaram tudo rapidamente e numa 5.ª feira ao final do dia zarparam em direcção a Tróia.
 
Estava na moda ir para Tróia. Nem longe, nem perto de Lisboa. Todo um conjunto hoteleiro por descobrir com programas de spas's, massagens de última geração e spot's cheios de gente gira. Era o destino ideal. Sobretudo porque ainda era uma novidade para ela. E Senhora Dona Madalena era uma pessoa cool. Sempre actualizada. Sempre em altas.
 
Jantaram um sushi fabuloso, beberam uns gin's da moda e divertiram-se a tirar fotografias à comida, ao espaço, à vista e a elas próprias, está bom de ver. A noite estava quente e a piscina ali ao lado a pedir um banho noturno. Do outro lado da piscina uma casal aninhado numa chaise longue observava as estrelas e até o ser mais céptico à face da terra sobre essa coisa que é o amor, assim, ao longe, por momentos acreditaria que é possível viver desse e por esse sentimento.
 
Madalena descalçou-se, arregaçou o vestido fluido cor de salmão que combinava na perfeição com seu o tom de pele e sentou-se à beira da piscina com os pés dentro de água e um copo de bebida na mão. Parou a observá-los. Parou para pensar que assim, como aquele casal, só tinha estado quando namorava com o seu futuro ex-marido. E não se lembrava daquele carinho que se sentia à distância entre eles, depois do casamento.
 
- Então agora?!? O que é que se passa? Não achas que estás a dar muito nas vistas?
- Hã...?
- Sim, a olhar para as pessoas. Disfarça, se faz favor! O que vale é que eles ainda nem repararam em ti. Se fosse comigo já me tinha levantado para te perguntar se querias alguma coisa.
- Oh! Até parece...
- Até parece o quê? Madalena, pára de olhar!!
 
A amiga, entretanto, já se tinha sentado ao seu lado.
 
- Sabes que ele ligou-me?
- Quem?
- Ora, quem? O defunto!
- Desculpa?!? Estás a referir-te ao teu marido?
- Ao meu futuro ex-marido, se fazes favor. Baptizei-o de defunto. Para mim morreu.
- Ai é? Então isso faz de ti o quê? Uma assassina? Que eu saiba choraste baba e ranho dias a fio culpabilizando-te do abandono. Ou não foi?
 
Madalena olhou para a amiga de lado.
 
- Sim, não olhes para mim assim. Ou já te esqueceste? A culpa é minha, não lhe dei atenção, tinha mais que fazer, não conversava com ele, e blá, blá, blá whiskas saquetas... Poupa-me Madalena. Defunto...
 
Silêncio.
 
- E o que é que ele te queria, afinal?
- Falar sobre o IRS.
- Huummmm... e tu?
- Disse-lhe que achava piada ao poder de um papel carimbado. Que queria tentar de novo.
- O quê?!? Rebaixaste-te dessa maneira?!?
- Tu não entendes! Será que não entendes? Eu quando casei não foi a pensar em divorciar-me! E ele... ele é homem... igual aos outros. À primeira que lhe apareceu lá foi que nem um cãozinho a abanar a cauda. Disse-lhe para pensar sobre isso.
- Ah foi...? Nem pareces tu, credo mulher! Nem pareces tu...
- Descobri que o amava. Que o amo. Sabes que isto foi mesmo uma descoberta para mim?
- Estou  a ver que sim...
- Olha, vês aqueles dois? Aquilo é que é a verdadeira definição de "amor e uma cabana". Ali estão, felizes da vida, aninhados, a conversar entre eles, com risinhos e abracinhos e beijinhos, a observar as estrelas.
- Olha, vamos mas é para dentro. Estás aqui estás a chorar outra vez. E com os copos que já bebeste não deve tardar muito.
- Vou ligar-lhe!
- O quê? Para quem?
- Para o defunto. Vou ligar agora.
- Pá, Madalena! E vais dizer-lhe o quê? Olha, estou com os copos e apeteceu-me ligar-te para dizer que foste baptizado de defunto, mas que eu amo-te e amar-te-ei para todo  sempre...
 
Nisto já a Madalena estava de telefone na mão, a fazer a chamada. À espera que ele atendesse.
 
E do outro lado da piscina uma luz, de repente, anunciou a presença de um telemóvel. Estava escuro e a iluminação da piscina não permitia ver grande coisa. Mas a luz de um telemóvel, à noite, do lado oposto de uma piscina de um hotel acender exactamente no momento em que a Madalena fez a chamada revelou o inesperado.
 
Era ele, o defunto, que estava na chaise longue a admirar as estrelas.

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