quinta-feira, 30 de abril de 2015

A dor da traição... (blognovela)

Madalena chorava desalmadamente. Há duas semanas. Desconsolada, inconformada, desapontada. Madalena chorava. E já ninguém a aguentava.
- Vá lá, Madalena... tens de arrebitar. Já não posso ver-te assim!
- Mas tu... tu não sabes... tu não percebes...
- Pois não! Mas também não aguento mais ver-te assim. Não pode ser, Madalena. Não podes continuar a chorar e a chorar e a chorar. Ainda por cima por um homem?!? MADALENA!!

Duas semanas. Era o tempo que o calendário marcava desde o dia em que o marido da Madalena tinha saído de casa. Sem aviso-prévio. Sem uma conversa. Sem uma desculpa. Sem mais nada, além da roupa que tinha no corpo. Sem ela. Por causa de outra mulher.

- Não pode ser! Há duas semanas que não vais trabalhar!! Não morreu ninguém, caramba!
- Mas tu não percebes...
- Não, não percebo. Acho que o teu marido também não percebeu a mulher extraordinária que és. Que cometeu um erro grave. Que um dia vai arrepender-se. Mas isto não é o fim do mundo, mulher!!
- Tu não percebes... Fui eu que o traí primeiro... E agora estou a pagar por isso...

- WHAT? Tu?!? Traíste-o primeiro? E não me disseste nada?
- Sim... é verdade...
- Já sei! Foi com o teu PT, certo? Por isso é que chegavas a casa tão estafada. Eu bem estranhei... aquele cansaço todo... As horas a que tinhas treinos, quando andaste a comprar uns top's todos giros para fazeres ginástica. Foi com ele, não foi?
- Não...
- Não?!? Huuumm... ok. Já sei! Foi com aquele... como é que ele se chama... que trabalha lá contigo... aquele, o cheiroso... o do BM...
- O Jorge.
- Sim, esse! Olha que tu... Saíste-me cá uma estouvada... E eu a achar que ele andava a tirar-me as medidas. Afinal...
- Pára! Nada disso! Não traí o meu marido com o Jorge. O Jorge é um vaidoso de primeira que vive do perfume que usa para conquistar a minha chefe. Achas mesmo que eu perdia tempo com um homem daqueles?!?
- Eu cá perdia! Nem que fosse uma horinha... só para dar uma voltinha...
- Parva...
- Olha, pelo menos já paraste de chorar! Conta lá, pá! Com quem é que enfeitaste a testa do teu marido?

- Queres mesmo saber?
- Oh! Vá...
- Com tudo e mais alguma coisa. Com o meu emprego, com as reuniões e obrigações que tenho. Com as minhas idas ao ginásio. Com a minha agenda cheia de compromissos. Com o arranjo das unhas, das pestanas. Com a depilação a laser e a lipoaspiração. Com as massagens novas que experimentava todos os meses. Com os novos tratamento para isto e para aquilo. Com as minhas amigas. Contigo! Bem sabes que nunca deixei de ir convosco para todo o lado, mesmo que ele me pedisse, uma vez só que fosse, para não ir... e eu ia na mesma. Foi assim que o traí. Com a rejeição. Com a falta de tempo. Distraí-me. E ele estava mesmo ali ao meu lado. E eu não o vi, percebes?

- Estás a brincar comigo? Então e ele? Não tem culpa no cartório? Nunca te disse nada? Nunca falaram sobre isso?

- Pouco falámos sobre isso. Porque eu não tinha tempo. Porque eu casei-me com ele assim... a tentar levar a mesma vida que levava antes... ignorando aquilo de que sempre ouvi falar: as cedências. E eu não as fiz... Fui eu que o traí. Fui eu que não fui fiel à sua disponibilidade. À sua vontade de estar comigo. Às manifestações de amor que me fez. E que eu ignorei. Porque estava cansada. Porque tinha de trabalhar. Porque, porque e mais porques!! Percebes?

A amiga não percebia. Não era casada. Nunca tinha sido traída. Não estava, sequer, a acreditar naquele discurso. Não estava a querer crer que a Madalena se achava culpada da traição do marido. E disparou:

- Olha, ao menos não têm filhos! Assim é mais fácil!
- Pois... até nisso o traí... ele queria. Eu não. E percebo agora que nunca fiz nada! Nada do que ele me pediu! Apenas casar. E não é isso um casamento. Aquilo que eu fiz...

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